Zilda Arns e o cristianismo

Publicado: 5 de outubro de 2010 por Leandro Possadagua em Uncategorized

Carlos Barros Gonçalves*

O componente religioso é um dos aspectos mais característicos da cultura brasileira. Semanalmente, nos jornais e revistas – impressos ou eletrônicos – na televisão, no rádio, nas rodas de tereré, alguma notícia sobre algo ligado à religião é comentada, espalhada, criticada.

Porém, vou restringir minhas idéias ao cristianismo, ramo religioso predominante no país e talvez por isso mesmo o mais perceptível no que se refere aos meios de comunicação. O problema, companhêro, são os maus exemplos, demonstrados por alguns cristãos por aí. “Um bom exemplo, pode ser coisa pequena, um bom dia um obrigado, por favor, não há de que…”. Pois é: é gente se passando por pastor e carregando fuzil, irmãos orando e agradecendo pelas bênçãos adquiridas com os cofres públicos, pastor político indo para a cadeia, templos suntuosos que muitas vezes não passam aspirações de líderes obcecados pelas aparências, é pedofilia pra cá, pedofilia pra lá…

Enquanto isso, o reino de Deus, que tem por base o amor ao próximo, a justiça, permanece esquecido.

Outra pitada: acredito que certo cristianismo espetáculo vem crescendo no país: é show pra cá, festa pra lá, ídolos musicais acolá…

Deve-se atentar, porém, que o “Evangelho não incentiva a busca desse tipo de sucesso. Jesus, discretíssimo, jamais aceitou a lógica do triunfo. Ele exerceu o seu ministério nos confins da Galiléia e não em Jerusalém; escolheu pecadores rudes como discípulos; priorizou alcançar marginalizados, pobres e esquecidos. Não cedeu ao apelo de ir para Atenas, mas foi para Jerusalém morrer. A lenta transformação do cristianismo em um sistema religioso com heróis de renome, ícones aplaudidos e mitos idealizados não tem nada a ver com o projeto inicial do carpinteiro de Nazaré”.

É preciso ressaltar os bons exemplos.Taí. Zilda Arns Neumann, nascida em 24 de agosto de 1934 e falecida entre as pobres, pobres mesmo, vítimas do terremoto ocorrido no Haiti em 12 de janeiro passado. Irmã de dom Paulo Evaristo Arns, foi também fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Zilda Arns, num trabalho silencioso desencadeou, e por que não dizer, salvou a vida de milhares de crianças e idosos por todo o país. Hoje a Pastoral da Criança está presente em 4.016 municípios brasileiros e em mais de 20 países. Há um exército de 240 mil voluntários atuando em 40.853 comunidades, acompanhando quase 93 mil gestantes e 1,6 milhão de crianças menores de seis anos. Atualmente mais de cem mil idosos são acompanhados mensalmente por doze mil voluntários de 579 municípios de 141 dioceses de 25 estados brasileiros.

Simplicidade e bons exemplos. Eis duas excelentes palavras para minimamente caracterizar dona Zilda, como era comumente chamada. Simplicidade e bons exemplos. Eis duas palavras que nós, cristãos cara-pálida, precisamos perseguir.

* Mestre em história pela Universidade Federal da Grande Dourados/UFGD. Cristão Batista.

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