31/10: Dia da Reforma Protestante. Essa data tem sentido no Brasil?

Publicado: 30 de novembro de 2011 por Leandro Possadagua em Uncategorized

31 de outubro. Mundialmente, é o Dia alusivo à Reforma Protestante. Aqui no Brasil é uma data para a qual muitas igrejas terão sermões ou mensagens nostálgicas, eufóricos a um passado. O que me pergunto é: tal “comemoração” têm sentido no Brasil? O que é ser protestante, ou evangélico, hoje em nosso país? Viajando anacronicamente, o que ficaria Martinho Lutero, Calvino ou Zwínglio (para não citar outros reformadores/hereges) se desembarcasse aqui e encontrassem as feiras das bênçãos de Deus, onde se barganha de tudo? Ou então, se fossem a um culto “tradicional” e encontrassem igrejas que mais parecem clubes sociais para encontro de amigos? Ou ainda, se fossem em igrejas que mais se parecem com os tribunais da inquisição, onde pesadas cargas tentam aprisionar pessoas e mentes?

Recentemente conheci uma jovem russa de nascimento, de pais judeus, mas que mora a muitos anos na Alemanha. Essa menina me disse que ao caminhar pela cidade foi atraída pelos sons que se passavam em um templo neopentecostal. Espanto. Em nossa conversa ela perguntou o porquê no Brasil existir tantas e tantas igrejas diferentes, tanto em nomes como em maneiras de ser. Eu disse um monte de coisas para ela, mas no fundo, não disse nada. Confesso que não soube o que responder.

Voltando à Reforma, o próprio nome e sentido foram ao longo anos apropriados caolhamente (acho que acabei de inventar um neologismo). Em primeiro lugar, não houve uma reforma protestante, houve várias, antes e depois do próprio herege Lutero. Em segundo, o tal Lutero nunca desejou criar uma nova igreja. O que ele queria era reformar (daí o nome reforma, entendeu? Hum?) a igreja romana. Para esta conclusão difícil basta apenas uma lida superficial nas 95 teses por ele afixadas na catedral de Wittenberg em 1520 (tido como o marco reformador. Tá no onisciente e onipresente Google). Os eventos que se seguiram no século XVI e que culminaram com o surgimento de novos ramos cristãos esteve muito mais ligados aos interesses políticos e econômicos dos estados alemães, e posteriormente de outros governos, de se verem livres do poder supremo, sagrado e temporal, de Roma.

Enfim, não sou daqueles que acham que no passado existe uma pureza teológica ou doutrinária à qual seria necessário voltar. Cada tempo tem seus homens e suas verdades. Agora, diante do atual cenário evangélico, protestante, seja lá qual o nome, sinceramente, vou ficar com as palavras de um pastor (considerado como herege em sua denominação, que novidade!) que informalmente me disse: “olha, sinceramente, ainda tenho esperança, confiança em Cristo por que conheço algumas pessoas verdadeiramente cristãs e que vivem uma fé genuína”, não fosse isso, sei lá companheiro.

Carlos Barros Gonçalves [Doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná/UFPR. Servidor do Centro de Documentação Regional da Universidade Federal da Grande Dourados – CEDOC/UFGD]

Se confirma invasión de madereros cerca de indígenas aislados

Publicado: 24 de setembro de 2011 por Leandro Possadagua em Uncategorized

Una expedición amazónica reciente ha confirmado que la tala ilegal en Perú continúa “a toda máquina, y se está extendiendo por territorio brasileño”.

Quince indígenas de las comunidades ashéninka y asháninka de Perú y Brasil se unieron para investigar las actividades ilegales de los madereros a lo largo de la frontera.

El viaje, que duró cinco días, ha revelado numerosas pruebas de la deforestación ilegal. Los campamentos de los madereros de la zona estaban activos y habían marcado árboles para su tala en el territorio asháninka de Brasil.

La expansión de la tala ilegal desde el lado peruano de la frontera hacia Brasil amenaza a varios grupos de indígenas aislados que viven en las cercanías, y que dependen de la selva para obtener comida y refugio: no pueden sobrevivir sin ella.

Los indígenas aislados también son vulnerables a las enfermedades del exterior, frente a las que tienen muy poca resistencia. El contacto con foráneos podría matarlos.

Las averiguaciones de la expedición se han grabado en sistemas GPS y han sido presentadas a las autoridades brasileñas. El equipo ha pedido un sistema de vigilancia más eficaz que se complemente con la total participación de los indígenas locales.

El alarmante ritmo de la tala ilegal está devastando el lado peruano de la frontera. Los ashéninka de este país sufren a medida que sus bosques son destruidos y sus líderes amenazados por su lucha para proteger su tierra.

Un indígena ashéninka ha declarado: “Lo que más nos preocupa es que las autoridades aún no han cumplido con sus responsabilidades. Si no solucionan el problema, nuestro territorio continuará siendo invadido, y seguiremos recibiendo amenazas de muerte”.

En julio, el territorio de los indígenas aislados, que se encuentra cerca de la zona que ha recorrido el equipo de investigación, fue invadido por traficantes de droga, y se temió que pudieran producirse episodios violentos. La situación se mantiene tensa ya que se cree que los traficantes siguen en la región.

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Fonte: Survival Internacional
Disponivel em: http://www.survival.es/noticias/7711

Uma idéia simples

Publicado: 6 de setembro de 2011 por Leandro Possadagua em Uncategorized

A maior parte dos homens retornaria aos antigos costumes em matéria de fé e de moral se conseguissem ampliar suficientemente os seus horizontes. É principalmente a sua estreiteza mental que os mantém nos trilhos da negação. Mas esse alargamento mental é facilmente mal interpretado, porque a mente precisa ser alargada para poder enxergar as coisas simples, ou mesmo as que são evidentes em si mesmas. Temos necessidade de uma espécie de esticamento da nossa imaginação para conseguirmos ver os objetos óbvios delinearem-se contra o seu fundo óbvio, especialmente quando se trata de objetos grandes colocados diante de um fundo grande.

Sempre há, por exemplo, aquele tipo de pessoas que não conseguem enxergar nada além da mancha no tapete, a tal ponto que são incapazes de enxergar sequer o tapete; esse tipo de atitude tende à irritação, que por vezes se amplia até à rebelião. Depois, há aquele tipo de pessoas que só conseguem enxergar o tapete, talvez por tratar-se um tapete novo; essa atitude já é mais humana, mas pode facilmente estar tingida de vaidade e até de vulgaridade. Há também o homem que só enxerga o aposento atapetado, e assim tende a estar isolado de muitas outras coisas — especialmente das dependências do empregados. E, por fim, há o homem alargado pela imaginação, que é incapaz de permanecer sentado no quarto atapetado, ou mesmo no porão do carvão, sem enxergar a todo o momento o perfil da casa inteira delineado contra o seu fundo primevo de terra e céu. Este homem, que compreende que desde a sua origem o telhado foi concebido como um escudo contra o sol e a neve, e a porta contra o frio e a lama, saberá melhor — e não pior — do que o primeiro que não deveria haver uma mancha no tapete. E, ao contrário desse homem, saberá também por que existe um tapete.

Este homem olhará do mesmo modo as falhas e manchas que possa haver na história da sua tradição e do seu credo. Não procurará explicá-las engenhosamente, nem muito menos tentará negá-las. Muito pelo contrário, enxerga-las-á com toda a simplicidade, mas também as enxergará dentro de um marco muito amplo, e contrastando com um fundo ainda mais amplo. Fará aquilo que os seus críticos, em hipótese alguma, são capazes de fazer: verá as coisas óbvias e fará as perguntas óbvias. Quanto mais leio as modernas críticas contra a religião, e especialmente contra a minha própria religião, mais me assusta essa estreita concentração em determinados pontos, essa incapacidade imaginativa de compreender o problema como um todo.

Andei lendo recentemente uma condenação muito moderada das práticas católicas tradicionais, vinda dos Estados Unidos, onde esse tipo de condenações nem sempre é muito moderado. Falando de maneira genérica, poderia dizer que essa crítica assume a forma de um enxame de questiúnculas, às quais eu estaria plenamente disposto a responder se não tivesse uma consciência tão viva das grandes perguntas que não são formuladas, aos invés das pequenas perguntas que o são. Acima de tudo, sinto falta deste fato tão simples e tão esquecido: sejam ou não verdadeiras determinadas acusações que se lançam contra os católicos, o que está além de qualquer dúvida é que são verdadeiras quando aplicadas a qualquer outra instituição. O crítico nunca se lembra de fazer alguma coisa tão simples como comparar o católico com o não-católico. A única coisa que nunca parece cruzar-lhe a mente, quando argumenta acerca da idéia que tem da Igreja, é perguntar-se com toda a simplicidade que seria do mundo sem a Igreja.

É isto o que procuro exprimir ao dizer que se pode ser demasiado estreito para enxergar a casa que se chama Igreja contra o seu fundo que se chama Cosmos. A título de exemplo: o autor que acabei de mencionar incorre na milionésima repetição mecânica da acusação de repetição mecânica; diz ele que repetimos as orações e outras fórmulas verbais sem pensar no seu significado. Não há dúvida de que conta com milhares de simpatizantes que repetirão essa denúncia depois dele, sem pensarem nem por um momento no que significa. Mas, antes mesmo de explicarmos quais são realmente os ensinamentos da Igreja a esse respeito, ou de citarmos as suas inúmeras recomendações para que se procure prestar atenção às orações vocais, ou de expormos as razões das razoáveis exceções que ela autoriza, há uma ampla, simples e luminosa verdade acerca de toda essa questão, e qualquer pessoa pode vê-la se andar pelo mundo de olhos abertos: é o fato óbvio de que todas as formas de dizer humanas tendem a fossilizar-se em formalismos, e de que a Igreja é um exemplo único na História, não por falar uma língua morta num mundo de línguas imortais, mas, pelo contrário, por ter preservado uma língua viva num mundo de línguas moribundas. Explico-me.

Quando o grande brado grego, velho como o próprio cristianismo, invade a Missa, muitos talvez se surpreenderão ao descobrir que há muita gente na igreja que repete “Senhor, tende piedade de nós”, e pretende realmente afirmar o que está dizendo. Seja como for, essas pessoas têm muito mais consciência do que dizem do que um homem que encabeça uma carta com um “Prezado Senhor”. “Prezado” é, neste contexto, evidentemente uma palavra morta; no lugar em que é empregada, deixou de ter qualquer significado. No entanto, é exatamente isto o que qualquer crítico alega contra “os ritos e as formas papistas”: trata-se de um ato realizado de maneira rápida, ritual, sem se conservar a menor lembrança do seu significado.

Quando o Senhor Jones, advogado, escreve “prezado Senhor” ao Senhor Brown, o banqueiro, não pretende afirmar que sente profunda afeição pelo banqueiro, ou que o seu coração está repleto de caridade cristã, nem mesmo naquela ínfima medida em que o está o coração de um pobre papista ignorante a assistir à Missa. Ora bem, a vida, essa vida humana ordinária, simples, divertida, pagã, simplesmente transborda de palavras mortas e de cerimônias sem significado. Não se escapará delas fugindo da Igreja para o “mundo”. Quando o crítico em questão, ou mil outros críticos iguais a ele, afirma que só se exige do católico uma presença material ou mecânica na Missa, está a afirmar algo que simplesmente não se aplica ao católico médio nas suas disposições para com os sacramentos católicos. Mas diz algo que efetivamente é verdade se for aplicado a qualquer funcionário público médio no desempenho das suas funções, a qualquer baile da Corte ou recepção no Ministério, ou a aproximadamente três quartos daquilo que a sociedade normal chama “visitas de cortesia”.

Essa morte lenta dos atos sociais repetitivos pode ser indiferente em si mesma, ou pode ser melancólica, ou pode ser uma conseqüência do Pecado Original, ou pode ser qualquer coisa que o crítico deseje. Mas aqueles que fizeram disso, centenas e centenas de vezes, uma acusação especial e concentrada contra a Igreja, são homens cegos para o inteiro mundo humano em que vivem e incapazes de enxergar qualquer coisa para além da única coisa que sabem repetir.

Ainda no escrito que mencionei, há inúmeros outros casos dessa estranha e sinistra inconsciência. O autor queixa-se, por exemplo, de que os sacerdotes são conduzidos de olhos vendados ao seu ministério e não compreendem os deveres que traz consigo. Também isso já o ouvimos antes. Mas raramente o ouvi formulado de maneira tão extraordinária como nessa acusação de que um homem pode ser definitivamente votado ao sacerdócio “desde a infância”. O autor parece ter idéias bastante curiosas e elásticas acerca da duração da infância, […] pois um sacerdote tem pelo menos vinte e quatro anos quando formula os seus compromissos. Mais uma vez, sinto-me perseguido pela enorme e nua e mesmo assim negligenciada comparação entre a Igreja e tudo aquilo que está fora da Igreja. […]

Com efeito, que havemos de dizer aos que quereriam comparar o patriotismo ou a cidadania civil com a Igreja nesta matéria? Rapazes de dezoito anos têm de alistar-se obrigatoriamente; na Guerra, vimos voluntários de dezesseis anos serem aplaudidos por afirmarem que tinham dezoito; vimo-los ser lançados aos milhares naquela imensa fornalha e câmara de torturas, que a sua imaginação era incapaz de conceber de antemão, e da qual a sua honra os proibia de fugir; e vimo-los ser mantidos nesses horrores ano após ano, sem qualquer esperança de vitória; e vimo-los ser mortos como moscas, aos milhões, antes de que tivessem tido a oportunidade de viver. Isto é o que faz o Estado; isto é o que faz o “mundo”; isto é o que faz a sociedade, essa sociedade secularizada, prática e razoável. E depois de tudo isso, ainda têm a inominável impudência de vir queixar-se de nós porque permitimos que, dentre uma pequena minoria especializada, um homem escolha uma vida de caridade e paz, não depois de ter completado vinte e um anos, mas quando já se aproxima dos trinta, e depois de ter tido quase dez anos para refletir serenamente sobre a sua vocação!

Em suma, sinto falta, em tudo isso, da pergunta óbvia: qual o resultado que obteremos se compararmos a Igreja com o “mundo” que está fora dela, ou que se opõe a ela, ou que nos é oferecido como uma alternativa para a Igreja? E a evidente resposta é que o “mundo”comete todas as barbaridades de que sempre acusou a Igreja, e as comete de maneira muito pior, e as comete em escala muito maior, e — e isto é o pior e o mais importante — as comete sem dispor de padrões para voltar à sanidade nem de motivos para fazer um movimento de penitência. Os abusos católicos podem ser reformados, porque dispomos de uma forma universalmente aceita; os pecados católicos podem ser expiados, porque há um teste e um princípio de expiação. Em que outra parte do mundo de hoje havemos de encontrar semelhante teste ou padrão? Ou mesmo qualquer coisa além de veleidades sempre cambiantes, que fizeram do patriotismo a grande moda de há dez anos, e do pacifismo a grande moda dez anos depois?

O perigo atual é que as pessoas não se dispõem a ampliar suficientemente os seus horizontes a ponto de se tornarem capazes de enxergar as coisas óbvias, e esta é uma delas. Os homens acusam a tradição Romana de ser semi-pagã, e depois se refugiam num paganismo completo; queixam-se de que os cristãos se deixaram contaminar pelo paganismo, e depois fogem dos doentes para se refugiarem junto à doença. Não há uma única falta institucional imputada à Igreja Católica que não esteja presente de maneira muitíssimo mais flagrante, e até gritante, em qualquer outra instituição — o Estado, a Escola, a moderna máquina tributária e policial — que as pessoas se voltam, na esperança de que serão salvas por elas da superstição dos seus pais. Esta é a contradição, esta é a violenta colisão, este é o inevitável desastre intelectual em que estão envolvidas até as orelhas. Quanto a nós, só nos resta esperar, pondo em jogo toda a paciência de que sejamos capazes, até descobrirmos quanto tempo levarão para descobrir o que foi que lhes aconteceu.

G. K. Chesterton

O Riso do palhaço sem alegria

Publicado: 5 de setembro de 2011 por Leandro Possadagua em Uncategorized

Outro dia alguém, não sei bem porque e quando , me disse que a vida era um presente divino, e que devíamos saber aproveitá-la, e jamais esquecer de agradecê-la, quem quer que fosse o padrinho. E que por pior que se apresentasse a vida, estar vivo era um milagre dos céus. “Deus sempre sabe o que faz”, enfatizou o amigo, filósofo de botequim, cheio de paz no coração e repleto de alegria artificial na cabeça.

Fiquei meio assim com essa idéia de que a vida é um presente, porque outro dia também ouvi de um mendigo agradecido pela sobras de um almoço: “cavalo dado não se olha os dentes”, nesse mesmo dia o vira-lata ficou sem o seu almoço na lata de lixo. As migalhas não escolhem os miseráveis, elas são presentes do acaso.

É preciso estar no lugar certo, na hora certa, nos diz as pessoas que embrulham os presentes. Mas como os pobres e os vira-latas não têm relógio, sempre chegam atrasados. Assim como os ônibus.

Não sei quem me disse que para entender a vida era preciso conhecer a palavra de deus, mas como ele nunca apareceu pessoalmente, durante muito tempo acreditei nos mandamentos dos publicitários. Lembram daquela profecia?”O mundo trata melhor quem se veste bem”. Pois é, o mundo dá crédito para quem tem crédito.

E aí, se a vida é agora, Vida loka ou Vida besta? Descobrir tem seu preço.

Na verdade acho que a vida é uma das coisas mais engraçadas que o mundo nos dá, e que por isso mesmo, muitas vezes não tem graça nenhuma. Não é que eu seja mal-agradecido, e ria menos que devia para o destino, mas é que tem umas coisas que acontecem…

Vai vendo a ironia do destino, tenho um amigo que estava já algum tempo desempregado, estava vivendo de bicos -sei que tem muita gente que não sabe, mas viver de bico não tem graça nenhuma. Ele agora faz bico em uma loja de sapatos, e a coisa mais engraçada é que ele não é vendedor, nem gerente ou faxineiro, meu amigo é o palhaço da loja. É. Ele fica na frente da loja vestido de palhaço, fazendo graça para as pessoas que passam. Parece legal né? Mas não é.

Quando eu o vi e reconheci ele até que foi meio divertido, não sei se porque o patrão estava olhando, mas seus olhos e a maquiagem mal-feita, o traíram. Estava triste.

Puxa, pensei, um homem desempregado não deveria ser palhaço, ser palhaço não é uma profissão, é um estado de espírito, um dom. Taí, um presente.

Que tristes tempos nós vivemos, em que os circos se foram para o nunca mais, e os palhaços-trapezistas habitam as lojas de sapatos.

Também tentei fingir, e ri um riso falso de poeta que tem a boca desbotada, para que ele, talvez, se mantivesse digno em seu novo emprego, para que ele talvez se mantivesse firme na corda-bamba dessa vida, que mais parece sapato sem cadarço, para os que têm pés-de-chinelo e as pegadas miúdas que rastreiam o chão duro da felicidade que nunca vem.

Despediu-se de mim com os olhos e partiu arrastando sua tristeza oculta em outra direção. Ele se aproxima de uma menininha que se afasta meio com medo.

A Mãe, sem-graça, diz: “não tenha medo minha filha, é só um palhaço.”

“Quem dera”, pensou ele.

“A Vida não é engraçada, um homem triste a fazer sorrir os outros?”, disse a voz do destino, segurando um cartão de crédito sem-limites na mão, e um peito vazio na outra.

Sem saber como chorar, ele respondeu com os olhos: “Não mãe, não é só um palhaço, é um homem sem emprego, desfrutando o presente da vida”.

Mas há os desempregados, que cegos, viram atiradores de facas. Dói só de lembrar.

Sérgio Vaz [Poeta, escritor e fundador do Sarau Cooperifa]

Meu véio pai

Publicado: 16 de agosto de 2011 por Leandro Possadagua em Uncategorized

13 de março de 1924. Fazenda Campanário, Mato Grosso. Nesse dia nascia o menino Alexandre, filho de um trabalhador paraguaio e de uma dona de casa meio argentina meio índia. Era o tempo da erva mate em Mato Grosso, dos cavalos gordos e bem encilhados, das moças bonitas (moças mesmo) dos bailes e das serenatas após um dia inteiro de trabalho, da fartura de alimento e de trabalho. Era o tempo do piripipi e do 44, em que a palavra tinha muito valor. Andar armado não era sinônimo de bandidagem. “No tempo em que aqui era Mato Grosso, não esse matinho aí”, como diria esse mesmo menino uns setenta, oitenta e poucos anos mais tarde.

O menino cresceu, viveu bons e maus momentos. Paraguai e Brasil eram quase a mesma coisa naqueles espaços de mato grossos. Em um dos maus, ou talvez bons, momentos deixou a família e passou a viver no Chaco paraguaio, no pantanal mato-grossense, em várias paragens. Já meio jovem meio adulto, andava pelas bandas de Dourados. Era 1951. Trabalho de derrubada de mato, que ainda era grosso, trabalho com erva, com roças, bailes, serenatas. Em terras da colônia, o tempo parecia andar devagar. Nessa época, “as moças perguntavam: quem é esse que vem chegando ai? Esse aí é o Alexandrão! Andava bem vestidinho, cavalo bom, gordo, alforje, bota, chapéu bom”, seriam palavras que esse tal Alexandrão pronunciaria chorando anos mais tarde ao segurar nas mãos as fotos tiradas por Potenciano Ribeiro em frente à Casa Brandão e à Casa A Sombra da Tarde, em Dourados.

Ainda como Alexandrão, casou, teve dois filhos. Separou. Casou novamente. Teve mais três filhos. Continuou andando. Saindo e voltando para Dourados. Benitez, Ortiz, Barrios, eram os parentes sempre visitados nestas terras.

Maio de 1991. Deixava com a última mulher e filhos a fazenda Passa Tempo (sim o tempo! Desde aí parece ter passado tão rápido!), em direção a Dourados, mais uma vez. Foi aí que viveu seus últimos anos. Mudanças na família, nos amigos, no trabalho. Mas, ao longo dos 20 anos seguintes as mudanças mais sentidas foram as do próprio corpo. Foram vinte anos de bons e maus momentos novamente. Só que nesses últimos anos, já não era mais o mesmo. “Hoje alguém pergunta: quem é esse daí: ah, esse é um paraguaio veio que tem aí” falava dando risadas. Algumas coisas não mudaram: tereré quase o dia inteiro, locro paraguaio (tipo de sopa com canjica e carne) todo domingo, música paraguaia…

11 de janeiro de 2011, a maior mudança. O Paraguaio Véio mudou-se novamente. Estava inquieto por aqui. Só que desta vez voltou sozinho. Foi para outra paragem, onde, o mato é grosso, os bailes ainda existem, os cavalos estão gordos. Já não é mais o Paraguaio Véio, voltou a ser o Alexandrão…

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Estas foram algumas palavras que brotaram salpicadas de saudade, de um sentimento de vazio criado porque tudo aconteceu tão rápido.

14 de agosto de 2011. É o primeiro Dia dos Pais que não tenho o meu pai por perto.
O meu caminho, também de idas e de vindas, de bons e maus momentos, ainda estou a fazer. Um dia também irei voltar. Irei conhecer outras terras. Irei novamente encontrar o menino Alexandre, o Alexandrão, o Paraguaio Véio, o meu pai.

Homenagem a Alexandre Fernandes Bairro, do filho Carlos Barros Gonçalves